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80 anos do IPC

"No dia 1º de fevereiro de 2019, o Instituto Paranaense de Cegos (IPC) completará 80 anos de história. Trata-se de quase meio século de serviços prestados no atendimento às necessidades das pessoas com deficiência visual (cegas ou com baixa visão). Durante este ano, muitas atividades estão programadas para comemorar esta data.

Fundado em 1º de fevereiro de 1939 por um pequeno grupo de pessoas preocupadas com a assistência às pessoas cegas, o IPC confunde-se com a história de Curitiba. Hoje, cravado numa das regiões mais nobres da cidade, o IPC resiste a uma série de intempéries, assim como pessoas idosas já debilitadas que, desafiando a natureza e a ordem social vigente, insistem em permanecer vivas clamando por atenção e respeito aos seus direitos individuais e também aos coletivos. Criado numa época em que nada existia sobre direitos e políticas públicas das pessoas com deficiência visual, o IPC, era quase que o próprio Estado em ação. Era ele que acolhia, em suas dependências, as pessoas cegas carentes, dando assistência, cama, alimento e, para alguns, até trabalho nas suas oficinas e atividades artesanais. O IPC garantia atendimento à saúde - prestado por médicos voluntários com o auxílio de pessoas leigas da comunidade, ofertava educação na sua escola especializada, pagava pensão às pessoas cegas comprovadamente necessitadas e enterrava seus próprios mortos, num cemitério onde até hoje ainda conserva algumas gavetas com restos  mortais. Aqui de 2019 olhando para trás, parece necessário lembrar, e ao mesmo tempo homenagear, não apenas os fundadores, mas centenas de outras pessoas, com ou sem deficiência visual, que dedicaram tempo, esforços e contribuíram com essa luta. 

Hoje, vivendo entre o passado e o futuro, o IPC trava uma espécie de luta interna provocada pelo conflito, pela contradição entre o "velho" e o "Novo" IPC. Marx escreveu no 18 Brumário de Luiz Bonaparte: "A tradição das gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos". Por isso, não se trata aqui de negar o "velho" IPC, mas sim de compreender que, se o passado representa a morte, o que já foi, o futuro representa a vida, o devir, o que precisa ser construído, como fizeram as gerações anteriores, olhando para esta época em que estamos. Estamos falando de um enorme desafio, e o principal deles não é fazer mudanças nas edificações da sede, mas operar as devidas e necessárias mudanças de consciência e de cultura, trazendo e introduzindo diferentes concepções, novos modelos e maneiras de conceber, compreender e relacionar-se com as pessoas com deficiência visual. 

Alguns passos importantes já foram dados nesta direção. Se o Novo IPC pretende um dia transformar-se verdadeiramente numa organização social efetivamente renovada e inovadora, é preciso que aquelas pessoas que fazem o IPC no seu cotidiano também mudem suas ideias e suas práticas. Neste ponto, o momento que o país está atravessando tem muito pouco a contribuir. Vive-se uma conjuntura histórica complicada, com atrasos e retrocessos, com o reaparecimento de ideias e práticas medievais não apenas sobre as pessoas com deficiência, mas também sobre outros segmentos sociais historicamente marginalizados. Por isso, a ideia do Novo IPC precisa, primeiramente, resistir a esta ofensiva conservadora. Este conservadorismo atingiu por inteiro o conjunto da sociedade, com forte penetração nos espaços e esferas da vida pública e privada. Hoje, trata-se de um projeto social hegemônico que coloca em risco os poucos avanços, até o momento alcançados, na direção de uma sociedade inclusiva.

Mesmo diante deste quadro, por demais desafiador, o IPC chega aos seus 80 anos esperando novamente vencer. Com essa esperança, programamos várias atividades para o ano, inclusive o lançamento de um livro que contará a história desses 80 anos. Trata-se de um trabalho profissional, feito por uma equipe constituída por historiadores, sociólogos, jornalistas e outros profissionais. Para viabilizar o projeto, foram levantados recursos financeiros via Lei Rouanet - Projeto de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, que prevê a publicação do conteúdo do livro na versão impressa, em áudio, digitalizada e em braille, além de exemplares com caracteres ampliados. Este completo material deverá estar pronto até o final do ano.

Além da publicação do livro, todo o material coletado com a realização das pesquisas de campo, nos próprios arquivos do IPC e das entrevistas com pessoas cegas, será disponibilizado no portal do Novo IPC. Trata-se de matéria prima, ou fontes primárias, que poderão ser utilizadas por outros pesquisadores em futuros estudos sobre a história do IPC. 

Será também realizado um jantar comemorativo aos 80 anos. O evento será no dia 22 de fevereiro, no Restaurante Madalosso, em Santa Felicidade, que deve reunir cerca de 300 convidados. Os convites custam R$ 60 e já podem ser adquiridos na nossa sede ou reservados pelo telefone 41 3342-6690, no ramal do Recursos Humanos. No decorrer do ano, outras atividades serão realizadas para marcar este aniversário, afinal, não é sempre que uma instituição chega a seus 80 anos. Aliás, poucas têm este privilégio aqui no Estado do Paraná.

O IPC reitera o seu histórico compromisso com a defesa dos direitos das pessoas com deficiência visual. Da mesma forma, também agradece e espera continuar contando com  a contribuição e colaboração daquelas pessoas que sempre atenderam aos nossos apelos, nos momentos mais difíceis, quando uma mão amiga faz toda a diferença na vida das pessoas e das organizações sociais.

Contamos com vocês para seguir escrevendo esta história".

 

Enio Rodrigues da Rosa

Diretor do Instituto Paranaense de Cegos

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